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Mesa Baldio 2015-16

Foto- Douglas Lopes

The first Makers’ Meal was born in Lumsden, at the Scottish Sculpture Workshop in 2012; born through a desire to explore the process and results of collaborative making towards a common goal.

The second Makers’ Meal, Mesa Ajudada, took place in the Algarve, Portugal in 2015: Mesa Ajudada Newspaper
newspaper

In 2015 the Makers’ Meal project and its ethos traveled to Brazil to become Mesa Baldio. From 2015- 2016 Mesa Baldio worked with various organisations, communities and individuals . The final meal took place in Niterói August 2016, but the projects involved continue to develop as collectives.
                                                                                                                                          

Mesa Baldio
Da arte crítica à arte do cuidado
Scottish Sculpture Workshop

 

 

Design- Christiano Mere

Em terra de egos, quem vê o outro é rei.
Tokinho Carvalho (Datilografia Poética)

Como é que a arte pode passar da criação de um indivíduo e fruição de alguns, para a criação de muitos e fruição de todos?
Jorge Barbosa (UFF e Observatorio de Favelas)

O mundo mudou! A arte, essa, teima em continuar a mesma. Durante todo o século passado a arte afirmou-se como uma espécie de consciência crítica da sociedade, detentora de uma autonomia que a elevava ao estatuto de torre de marfim (Ivory Tower), e que posicionava o artista como alguém visionário, que sabia algo que a maioria do mundo desconhecia. Ainda hoje, muitos artistas insistem no estatuto de transgressor, de flaneur. Mas o mundo mudou… E, com a exceção dos artistas, eles mesmos, ninguém mais presta atenção. É que hoje existem outras urgências: o impacto das mudanças climáticas nas populações mais pobres da África, Asia e Medio Oriente, as guerras e o terrorismo que delas advém, a emergência populista da Extrema Direita, a perda acentuada da biodiversidade, etc exigem um profundo envolvimento e cuidado por parte de todos os setores da sociedade.

A arte, como um desses setores, não poderá declarar um rompimento, uma separação do mundo e dos seus problemas, sob pena de no futuro ser vista como mero acessório das classes abastadas.

Um dos problemas principais com que a arte se defronta, nesta transição da crítica desengajada para uma ideia de cuidado, são as limitações da sua terminologia, do seu vocabulário. E impossível falar de cuidado, de empatia, de afeto usando a linguagem do distanciamento crítico, a verborreia corrosiva e irônica do pós-moderno. Precisamos de novas palavras e novos conceitos para falar de práticas há muito implantadas no terreno, por artistas e por cidadãos que cuidam.

É neste engajamento entre a arte e as urgências do mundo que propomos Mesa Baldio.

Através da palavra baldio este projeto propõe uma conceituação nova para pensar o coletivo[1]. O dicionário português Novo Dicionário Lello da Língua Portuguesa define a palavra como:
“Baldio: Que não está cultivado; terreno que, pertencendo a uma comunidade local, é usado coletivamente.”

A questão do uso coletivo – muito diferente da ideia de abandono – é crucial para entender o baldio. O baldio so existe através do uso compartilhado, e por isso distanciamo-nos da ideia de baldio largado aos bandos (abandono). Propomos ao invés, o baldio enquanto verbo, enquanto acção.

O projeto é baseado numa serie de ações coletivas lideradas por jovens habitantes de favelas no Rio de Janeiro e Niterói. Na primeira ação (Nova Holanda, Maré) construiu-se uma mesa baseada na ideia de miolo. Com a ajuda de dois carpinteiros e de uma arquiteta, os jovens desenvolveram um processo de construção e design inspirado numa rua da Maré (Rua Miolo), e que deu origem a um conjunto de mesas. Na segunda ação, um conjunto de jovens do Morro do Palácio (Niterói) construíram uma composteira, seguida de alguns canteiros onde produziram vegetais. Na terceira ação, com o Espaço Mirá, os jovens fizeram pratos, copos e tijelas cerâmicas. Na Escócia dois artistas fizeram uma viagem pelo Nordeste coletando garfos, que foram gravados com os nomes das terras onde foram comprados. Finalmente, foram feitas bases (Gradim), cadeiras e canecas (Bumba), seguidas de uma refeição banquete (MAC). A Mesa Baldio e todos os utensílios feitos em oficinas por jovens estarão na exposição ‘Águas e Vidas Escondidas’ no MAC, patente ao público a partir de 6 Agosto 2016.

Parte do projecto estará exposto no Bela Maré, parte da exposição QUINZE:
Inauguração no dia 12/8, às 18h.
Endereço: Rua Bittencourt Sampaio, 169 – Maré, 21044-261 Rio de Janeiro, Brazil
                                                                                                              

Equipa tecnica baldia:
Nuno Sacramento, Luiz Guilherme Vergara, Jorge Barbosa, Gabriela Bandeira, Yvonne Billimore, Sofia Oliveira, Breno Platais, Douglas Lopes, Rodrigo Freitas, Cristiano Mere.

Mesa Miolo
Lugar: Maré
Facilitadores da oficina: Antero Santos, Sofia Oliveira, Alexandre Silva, Daniel Remilik, Leticia Souza Stark, Luiz Gonzaga e Marcia da Silva
Participantes: Lucília S. Santos, Rayssa Araujo Batista, Loran Santos, Leonardo Campos, Natanael de Oliveira da Silva, Lucas Barbosa dos Santos, Gilson S. Jorge, Priscilla Ferreira, Rogério da Silva Brunelli, Raiany Bispo Soares, Tuany Felix Freitas, Rubes Izidoro Blanc, Raphael Vasconcelos Rodrigues

Composteira / Horta
Lugar: Morro do Palácio
Facilitadores da oficina: Sofia Oliveira, Antero Santos, Nance Klehm e Paola Hortala
Participantes: Maicon Santana, Maicon Rodrigues, Matheus da Silva, Otávio Henrique da Silva, Josemias Moreira Filho, Elielton Queiroz Rocha, Ezequiel,Patrick Sousa, Marcos Vinícius, Douglas Araújo.
Cerâmicas
Lugar: Gragoatá
Facilitadoras da oficina: Alda Laís e Nina Alexandrinsky
Participantes: Gabi Bandeira, Otávio Henrique da Silva, Josemias Moreira Filho
Cadeiras / Xícaras
Lugar: Bumba
Facilitadores da oficina: Seu Hernandez
Participantes: Gabi Bandeira, Otávio Henrique da Silva, Josemias Moreira Filho, Douglas Araújo.
Suplás
Lugar: Gradim
Facilitador da oficina: Henrique Viviani
Participantes: Sandra Cátia de Souza, Vanderlani Cavalcante da Silva, Angela Ricardo, Hericleyde da Silva, Fernanda Dutra, Ana Carolina da Costa Rodrigues.

Garfos
Lugar: Nordeste da Escócia
Participantes: Yvonne Billimore, Roddy Buchanan
Texto de reflexão por Roddy Buchanan:
Como uma ideia se transforma em um projeto artístico? Olho pra trás, para uma semente semeada na Escócia que florescera em Niterói.

O meu pai é um carpinteiro aposentado. Eu e ele temos um interesse comum; ferramentas. Um dia, o pessoal do Scottish Sculpture Workshop (SSW) estava falando comigo sobre um projeto que eles estavam fazendo chamado ‘Slow Prototype’ onde colocavam artistas para trabalhar junto com artesãos. Meu pai e eu trabalhamos juntos nesse projeto.

Enquanto visitava o SSW reparei que tinha umas mesas feitas para o ‘Makers’ Meal’ em Lumsden (Escócia). Falava-se na possibilidade de um dia fazer o mesmo projeto em Portugal e no Brasil… e dois anos passaram… Oito meses atrás a produção na Maré e no Palácio estavam acontecendo. Outro dia Yvonne Billimore falou em ceramistas trabalhando, suplás feitos numa comunidade de pesca artesanal, e tomates a crescer numa horta do Morro do Palácio… e me perguntaram se eu queria contribuir para o projeto?

Eu pensei em nos elementos do projeto não tinha ainda sido produzidos? Eu propus talheres, mais especificamente garfos. Em colaboração com Yvonne partimos numa viagem de carro para encontrar garfos em varias cidadezinhas do norte da Escócia, perto do SSW. Este elemento nos ajudou a entender o desaparecimento do pequeno comércio tradicional em face da abertura de grandes mercados.

Então, qual foi nossa contribuição para a Mesa Baldio em Niterói? Garfos gravados com o nome de cada cidadezinha onde o garfo fora comprado. E irônico o fato destes garfos terem provavelmente sido produzidos na China, e através das rotas comerciais estabelecidas durante o Império, alimentadas por uma economia capitalista, acabam sendo vendidos numa montanha na Escócia. Então, quando estivermos celebrando este projeto Mesa Miolo no MAC, Niterói, pensemos nas cidadezinhas da Escócia que estão perdendo seu comercio tradicional. O que é que acontece quando queremos comprar um garfo e não conseguimos mais? Vamos ver…

Comidas
Lugar: Páteo do MAC Niterói
Facilitadores da oficina: Wellington Ribeiro, Breno Platais, Yvonne Billimore e Nuno Sacramento
Participantes: Todos os participantes do projecto

                                                                                                                                          

 

 

 

Parcerias:
Scottish Sculpture Workshop, Macquinho, Museu de Arte Contemporanea de Niteroi / Instituto Mesa, Observatorio de Favelas.

Financiado por:

Transform UK-Brazil / British Council and Creative Scotland.

                                                                                                                                          

[1]  Para um aprofundamento desta ideia consultar: http://institutomesa.org/RevistaMesa/makers-meal-e-a-producao-do-novo-common/

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